quinta-feira, 23 de setembro de 2010

UP 7 - 2006-2007 - 7 mil pessoas


Review: Universo Paralello #7

Mariana Baldin e Paulo Henrique (texto e fotos)


O ano de 2006 representou importantes mudanças para a cena trance no Brasil. O país se firmou como rota obrigatória dos principais artistas de música eletrônica do mundo, e não só o tamanho, mas também a quantidade das festas aumentou, trazendo consigo oportunidades para novos projetos nacionais.

Pela primeira vez, os maiores meios de comunicação do país romperam com alguns preconceitos e passaram a veicular reportagens culturais sobre o psytrance.

E para festejar a transição para uma nova etapa, a praia de Pratigí, no município de Ituberá (BA), foi palco de uma celebração histórica. Mais de sete mil pessoas tiveram contato com a essência da cultura psicodélica na sétima edição do festival Universo Paralello, que aconteceu de 28 de dezembro a 4 de janeiro de 2007.

Durante sete dias, brasileiros de todas as regiões conviveram pacificamente com estrangeiros de várias partes do mundo. Harmonia que também se mostrou presente na relação homem-natureza, já que todo o evento foi estruturado de modo a interagir com o meio ambiente, com a coleta seletiva do lixo e outras preocupações.

Para chegar ao paraíso psicodélico, foi necessário enfrentar alguns obstáculos. O primeiro deles foi o chamado “pau-de-arara”, caminhão que transportava o público até a entrada principal.

Depois disso, era preciso trocar o ingresso pela pulseira – o que ocorreu tranquilamente – e encarar a grande fila de pessoas aguardando a revista de suas mochilas.

Porém, bastavam poucos minutos dentro do festival para que todo o estresse do ano fosse compensado. Em boa parte dos 40 km de praia, estavam montadas diversas estruturas em madeira, palha e bambu, assim como tecidos coloridos que proporcionavam sombra diante do forte sol da Bahia.

Nesta edição do U.P., a estrutura foi repensada para receber um maior número de pessoas do que no ano anterior. A praça de alimentação cresceu em tamanho e variedade de opções, com restaurantes por quilo e vegetariano, massas, pizzas e sanduíches, além de comidas típicas como a panqueca de tapioca, acarajé e frutas tropicais.

A “feira mix” trouxe novidades, como o espaço do MST (Movimento dos Sem Terra), em complemento às já tradicionais lojas fluorescentes que venderam roupas, acessórios, tecidos e malabares.

Os chuveiros e banheiros estavam em maior quantidade, com a equipe de limpeza trabalhando incessantemente. Porém, isso não impediu a formação de longas filas em horários críticos, como de manhã e no final da tarde.

Principal objetivo da grande maioria, a boa música esteve presente nos mais variados estilos. A trilha sonora foi digna de um grande festival, em cada uma das quatro pistas de dança.

A maior e principal delas passeou por diversas frentes da música eletrônica. Pela manhã, sempre um bom live de “full on”, mantendo esta linha até o início da tarde, quando dava lugar ao trance progressivo ou à moderna vertente electro-house.

Apesar da ausência de esperados artistas –Tristan e Synthetic – o line-up não deixou a desejar, com apresentações sérias e competentes durante o dia e a noite. Pixel e Cosmo Tech, não anunciados previamente, tocaram de surpresa. 

As noites do Universo Paralello merecem destaque. Foi um verdadeiro resgate às origens do trance psicodélico, com a presença de nomes que não são vistos em festas tidas como “comerciais”.

Momentos de introspecção mental através do trance foram proporcionados por nomes como Penta, Naked Tourist, Electrypnose, Para Halu, Rodrigo CPU e o carismático Dj Nirmal, vindo diretamente de Goa (Índia) para o evento.

A pista alternativa consagrou-se como o encontro de todas as tribos do festival. O espaço contou com a qualidade sonora e experimental dos grupos Liquidus Ambiento, Pedra Branca, Yagé e UnaZen, entre outros, além da presença ilustre de Ventania e sua banda.

O hippie, da cidade mineira de São Thomé das Letras, lotou o espaço alternativo. Com seu violão, acompanhado de baixo e bateria, o dono da inconfundível voz rouca promoveu um grande encontro de “bichos grilo” de toda parte.

Este ambiente pra lá de diversificado, decorado com uma grande tenda vermelha à beira da praia, recebeu no dia 31 de dezembro uma programação diferenciada. Projetos do calibre de Audio-X, Life Style, Vibra e BLT, mostraram sons melódicos, em lives memoráveis de “full on”.

Totalmente decorado com material reaproveitado, o Chill-Out apresentou músicas de extremo bom gosto, em sets atmosféricos e muitas vezes dançantes. Abençoado pela imagem de Iemanjá, o espaço possibilitou a meditação e momentos de relaxamento.

Para surpresa de todos, uma quarta pista funcionava perto da entrada do festival. Mais modesto, o local estava aberto a receber qualquer pessoa disposta a mostrar algum trabalho. Mais ou menos como um mini-laboratório musical, sem prévia definição de estilo.

A decoração saltava às vistas. A equipe de cenógrafos trabalhou muito na instalação de grandes tendas coloridas, cata-ventos gigantes e espirais giratórios, que conviveram em harmonia com os imponentes coqueiros.

Muitas intervenções artísticas foram executadas durante todo o festival, com a presença de tribos indígenas e malabaristas. Algumas delas aconteceram em um grande palco, especialmente montado ao lado da cabine de som na pista principal.

O Circulou, movimento que atua na preservação da cultura, marcou presença. Atuando como um grande espaço de integração social e espiritual, o manifesto foi dividido em diferentes zonas temáticas: o Círculo de Cura, onde ocorriam aulas de yoga e meditação; o Cantinho Maia, onde eram passados ensinamentos sobre o Calendário da Paz; a Cozinha Circular, com aulas e dicas para uma boa alimentação; o Circo Multicultural, que ofereceu oficinas artísticas; O Integral Bambu, enorme estrutura onde era possível exercitar-se; a Tela Paralella, onde filmes e documentários eram exibidos; a Zona Espetacular, onde aconteciam apresentações circenses de grupos de todo o Brasil; e o Circulinho, espaço reservado às crianças.

Os pequenos, que neste ano eram ainda mais numerosos, brincavam e se divertiam livremente pelo festival, em gincanas e encenações promovidas por monitores treinados.

Na tão aguardada noite da virada do ano, foi feita uma pausa estratégica no som, para que a pista principal recebesse uma decoração a mais. Fibra óptica, laser e muita luz ultravioleta, foram adicionados.

Às 22h30, o live britânico Entheogenic preparou as mentes para o grande momento, com músicas calmas e extremamente melódicas. O estouro dos fogos e a apresentação do projeto AMD (Reino Unido), anunciaram a chegada de 2007 com muita emoção do público presente.

O set do experiente Dj Mack abriu para uma seqüência de lives digna de um grande festival: Etnica (Itália), Polaris (França), Rinkadink e Protoculture (África do Sul), cumpriram com a responsabilidade de tocar no primeiro dia do ano. Nem mesmo a chuva foi capaz de esvaziar a pista principal, que amanheceu renovada, com céu azul e muito sol.

Na última noite, o Dj Swarup, um dos organizadores do festival, fechou a pista principal com um “long set” marcante, que durou até o amanhecer. A sensação de missão cumprida, somada a uma série de acertos e sucessos nesta edição do U.P., trouxeram à apresentação uma emoção extra, empolgando ainda mais o público que aproveitava os últimos minutos de um acontecimento inesquecível.

O Universo Paralello foi o ambiente perfeito para aqueles que buscavam amadurecer culturalmente, de forma espontânea. O evento cresceu sim, porém sem perder as características de um encontro alternativo. Nesta jornada psicodélica, valores como liberdade, respeito e solidariedade permitiram uma coexistência exemplar.


Veja também:
Fotos do Universo Paralello 2007 
Universo Paralello: prévia do festival em entrevista com Swarup

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