terça-feira, 14 de setembro de 2010

Chill-Art: Review do Universo Paralello #10 por Luciano Sallun

29/1/2010 17:50:00
Chill-Art: Review do Universo Paralello #10 por Luciano Sallun

Luciano Sallun
FESTIVAL
O festival de arte e cultura Universo Paralello apresentou sua décima edição, completando 10 anos de festival. Para quem sabe de sua origem e seus princípios, foi o grande alavancador da cultura psicodélica no Brasil, podendo ser dito como o centro da cultura psicodélica nacional, um grande pólo de encontros entre produtores, artistas e público que uma vez ao ano, nos últimos 10 anos, tiveram como ponto de encontro nada melhor que as praias tropicais baianas.

Para quem não sabe de sua história, o festival começou de forma independente em Alto Paraíso, Goiás, durante os três anos primeiros, já sendo referência em seu terceiro ano para o ainda pequeno público e início da cena eletrônica no Brasil. Porém, foi somente em sua quarta edição, já na consagrada praia de Pratigi, Bahia, que o festival tomou novos rumos, dando maior abertura para arte e cultura e tendo o abençoado sol, já que em Goiás havia inúmeros problemas causados pela chuva na região.
Depois de seis anos em Pratigi, tiveram que mudar seu local para Praia do Garcez, mantendo seu conceito e ampliando palcos, espaços e público, em um lugar paradisíaco. É claro que essa mudança não seria simples. Foram seis anos estruturando o evento e educando a população local para o festival. Mas vimos que, mesmo com inúmeros problemas, com certeza o único agravante sem dúvida foi a falta de água. O festival foi muito bom e se resolverem os problemas de água o festival em uma próxima edição será um dos mais especiais vistos em torno do mundo.

Em suma, aqui falaremos mais sobre Arte e Cultura, Chill Out e Palco Paralello, onde acredito que é hoje em dia a base do diferencial do festival para os restantes nacionais. Ainda com uma visão psicodélica e cultura alternativa de vanguarda, já que foi percebido que a cultura eletrônica convencional já não tem mais nada de alternativo ou diferente.

ARTE E CULTURA
Com a nobre proposta de estimular arte e cultura para o público jovem, o festival abriu espaço para inúmeras atividades, dentre oficinas, palestras, vivencias, intervenções e apresentações artísticas em geral.

Espaços que aumentaram e deram mais abertura à arte e cultura que são ainda muito restritas nos festivais. O Circulou deixou de ser apenas um espaço pequeno e virou o Circulou Village, com espaços mais adequados e um complexo de uma pequena vila conduzida por artistas do circo e performances.

A Galeria Paralella também teve um espaço maior e mais adequado para suas atividades e exposições, dando maior visibilidade e atmosfera para apreciação das obras. Vimos também a inédita Zona Espetacular, com teatro, circo, dança, entre jams sessions improvisadas e outras apresentações ao acaso e de modo espontâneo. Todas essas aberturas são muito positivas e acreditamos que são fundamentais para um festival crescer e mostrar que nem tudo é um DJ “bombando”. Mas ainda há muito que evoluir para o aumento de artistas profissionais e de maior experiência, bem como maiores condições para os atuantes presentes.

CHILL OUT E PALCO PARALELLO
Depois de dois anos consecutivos com chill out’s inacreditáveis, com decoração, clima, magia e muito mais, este ano quem chegou ao festival a primeira coisa que se deparou foi na falta de magia e ausência de “alma” no chill out, que sempre será a sustentação de conceito: musicoterapia e musicalidade refinada de um bom festival.

Felizmente, o público que vai para o Universo Paralello já tem experiência ou informação, que seja sensível ou intelectual embasada para perceber e sentir isso cada vez mais. Isso nos deixa orgulhosos e com sorrisos a pensar sobre muitos produtores que um dia não acreditaram que isso seria possível.

E isso acaba sendo o próprio respeito ao Festival Universo Paralello, pois sabemos que eles não fizeram parte dessa ala de produtores que acreditam nas futilezas (sic) dessa cena de múltiplas caras. Sempre buscaram nos ouvir, sejam artistas ou público, onde procuram corrigir erros e entender isso de forma abrangente. Como no UP #6, que foi a única edição que não tinha chill out e foi realmente um lamento para todos os presentes aquele ano, como a própria água nessa última edição.
Corrigindo isso, nos outros anos ampliaram o chill out e ainda colocaram o palco paralello para ter mais cultura, mais música ao vivo: essa vida que o orgânico pode trazer e é incomparável. No ano passado tivemos juntos palco paralello e chill out, esse ano isso se repetiu, e isso sim é muito bom, o que fortalece a diversidade e a concepção de artistas mais musicais.

Tivemos ótimos momentos como Buguinha Dub pela primeira vez no festival, fazendo um autêntico live dub, algo pouco visto nas pistas, e ainda o live do Soneca, com seu projeto Trotter fazendo funk eletrônico, chamado de nujazz. Ainda as bandas Liquidus Ambiento e Pedra Branca, que deixaram o chill out lotado em pleno sol do meio dia, fazendo um novo concerto com formação completa e músicas novas. Podemos ainda destacar o Baque in Beat, o DJs Rica Amaral que fez todos levantarem a poeira com muita musica cigana. Mas a grande perda foi o cancelamento de última hora do mestre do dub, o Mad Professor.
Algumas invasões acabaram deixando o chill out com um “clima de barzinho”, do tipo “toca Raul”, ou “rockinho” e excesso de “reggae pop music”, atuando de forma visivelmente amadora, deixando os apreciadores mais conectados um pouco chateados ou angustiados, até porque os artistas invasores não estavam programados no line up, deixando todo o line atrasado e fazendo DJs e lives muito mais sérios esperarem inúmeras horas, bem como o próprio público. Enfim, acreditamos na diversidade, mas na de vanguarda, nas músicas do mundo, no experimental, no novo jazz e nas músicas que não estão no mercadomassificado ou convencional. O chill out é um espaço abrangente, e isso é seu potencial, mas não pode ser confundido com “qualquer coisa”. O conceito tem ser respeitado acima de tudo. Como já dito, o festival é sim referência e tem que mostrar o seu melhor, principalmente onde podemos elevar as almas e os conceitos de música contemporânea globalizada.

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